As ordenanças da Igreja
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INTRODUÇÃO
Em tempos pós-modernos, onde a institucionalidade da igreja tem sido questionada e o movimento dos desigrejados tem crescido assustadoramente, o aspecto comunitário da igreja tem sido negligenciado e, em seu lugar, tem surgido uma espécie de cristianismo autônomo e informal.
Neste contexto, a eclesiologia bíblica tem tido o desafio de expor biblicamente o aspecto comunitário e institucional da igreja a fim de resgatar o sentido primitivo da “ekklesia” e sua confiabilidade espiritual e temporal.
Outrossim, nesta tarefa eclesiológica, o resgate das ordenanças em seu sentido teológico e teleológico se faz necessário para demonstrar que as ordenanças instituídas e entregues por Cristo à sua igreja possuem uma natureza comunitária e só podem ser cumpridas no contexto congregacional, portanto, seu cumprimento se torna impossível dentro de qualquer conceito de cristianismo informal e autônomo.
A pós-modernidade tem influenciado a eclesiologia atual com implicações no conceito e função das ordenanças, eclipsando a importância doxológica das ordenanças. Desta forma, este artigo pretende, a priori, conceituar teológica e teleologicamente as ordenanças cristãs e, depois disto, demonstrar o aspecto comunitário das ordenanças e sua importância na expressão de fé da igreja.
1. AS ORDENANÇAS E SEU SIGNIFICADO:
As ordenanças podem ser conceituadas como mandamentos ordenados por Jesus à Igreja, ou seja, são ordens de cumprimento obrigatório que devem ser cumpridas inexoravelmente pela igreja e que contém em seu significado simbologia e rito que exterioriza certo ponto da fé.
Augustus Hopkins Strong, em sua teologia sistemática, conceitua da seguinte forma as ordenanças:
São ritos externos que Cristo indicou para serem administrado em Sua Igreja como sinais visíveis da verdade salvadora do evangelho. São sinais que expressam essa verdade e a confirmam ao crente. (Strong, Teologia Sistemática, 2007).
Desta forma, as ordenanças contém três elementos importante: a) o símbolo; b) o rito; c) a ordem.
O símbolo é elemento intrínseco da ordenança, pois é a representação visível de um ponto da fé cristã. Desta forma, as ordenanças são essencialmente simbólicas;
Já o Rito é a prática reiterada, habitual do símbolo, ou seja, toda ordenança contém um elemento ritualístico vez que o símbolo da ordenança é representado de forma regular através de uma cerimônia;
Por fim, toda ordenança contém, como o próprio nome indica, uma ordem de Cristo à Igreja (justificativa dominical), ou seja, uma ordenança possui um aspecto mandamental entregue diretamente por Cristo a sua Igreja.
Logo, as ordenanças são práticas reiteradas da igreja, dotadas de símbolos e rito, entregues diretamente por Cristo e que exteriorizam certo ponto da fé.
1.1. Quantas ordenanças Jesus instituiu?
A priori, cumpre registrar que a teologia protestante diverge da teologia católica sobre a quantidade de ordenanças deixadas por Cristo à sua Igreja.
A Igreja Católica ensina que Cristo instituiu 7 (sete) ordenanças que os católicos chamam de sacramentos, quais sejam: Batismo; Crisma/Confirmação; Eucaristia; Penitência; Matrimônio; ordens sagradas e extrema-unção.
Já a igreja protestante defende a existência de apenas 2 (duas) ordenanças, quais sejam: Ceia do Senhor (Mt 26:26-29) e Batismo nas águas (Mt 28:18-20).
A diferença entre o catolicismo e o protestantismo quanto a quantidade de ordenanças se dá pela existência, ou ausência, da chamada justificativa dominical (latim “Dominus” = Senhor) que deve ser compreendida como a ordem e justificativa dada por Cristo a Igreja, ou seja, para os protestantes, Jesus ordenou e justificou a prática de somente duas ordenanças (Ceia do Senhor e Batismo nas águas). Quando se fala da justificativa dominical, é preciso entender que uma prática, para ser considerada ordenança, precisa ter uma ordem, com conteúdo simbólico e rito próprio, deixada por Cristo à sua Igreja a fim de que ela possa cumpri-la regularmente.
Desta forma, segundo as Sagradas Escrituras, Jesus deixou apenas duas ordenanças para a Igreja, quais sejam: Ceia do Senhor (Mt 26:26-29) e Batismo nas águas (Mt 28:18-20).
1.2. Ordenanças ou Sacramentos, qual a terminologia correta?
Outro ponto de divergência entre católicos e protestantes é sobre qual a terminologia correta para a Ceia do Senhor e Batismo nas águas.
Os católicos rejeitam a terminologia “ordenanças” e preferem usar o termo “sacramentos”, pois a palavra “sacramento” traz a ideia de transmissão da graça ao crente com efeitos salvíficos, ou seja, para o catolicismo, tanto a Ceia do Senhor quanto o Batismo nas águas transmitem a graça de Deus aos crentes a fim de salvá-los. Por causa desta ideia, para os católicos, tanto a Ceia do Senhor (eucaristia) quanto o Batismo são condições para a salvação.
Já para os protestantes, o melhor termo seria “ordenanças”, pois entendem que a Ceia do Senhor e o Batismo nas águas são práticas simbólicas e, portanto, não transmitem nenhuma graça salvífica, pois esta já foi comunicada a todo crente no momento da conversão.
Desta forma, de maneira geral, as igrejas protestantes, inclusive pentecostais, preferem usar o termo ordenanças.
2. O SENTIDO COMUNITÁRIO/CONGREGACIONAL DAS ORDENANÇAS:
A vida cristã em comunidade é inerente ao genuíno cristianismo, pois, o cristianismo bíblico pressupõe uma viva e dinâmica comunhão entre os crentes. Durante toda a história da Igreja Cristã, de tempos em tempos, surgiram pessoas que, motivadas por conceitos heréticos, combatiam a unidade da igreja e, por conseguinte, a comunhão resultante da vida cristã em comunidade.
Atualmente tem surgido um fenômeno de abandono a vida cristã em comunidade organizada que tem cegado a presente geração e trazido prejuízos à igreja moderna. Este fenômeno é conhecido como “desigrejados”.
O termo “desigrejados” se refere ao fenômeno de abandono a vida cristã em comunidade organizada por parte das pessoas que não desejam mais congregar em uma comunidade de crentes institucionalmente organizada e/ou organicamente constituída. Em outras palavras, os desigrejados são pessoas que abandonaram suas congregações, deixando o convívio cristão comunitário, e, diante disto, defendem uma vida cristã exclusivamente autônoma, sem a influência decorrente da vida cristã em comunidade organizada, sem a subordinação a um líder eclesiástico ou a uma denominação. São “cristãos” que “servem a Cristo” nas suas casas, privadamente.
Contudo, as ordenanças são, nas palavras de Strong, “ritos simbólicos que destaca as verdades centrais da fé cristã, e é de obrigação universal e perpétua” (Teologia Sistemática, pg. 1634). Sendo assim, as ordenanças são as celebração da ceia do Senhor (1Co 11:23-28) e o batismo nas águas (Mt 28:19), ordenanças estas que só podem ser cumpridas congregacionalmente, jamais isoladamente. As ordenanças são de cumprimento obrigatório para todos os que fazem parte do corpo de Cristo e, por conseguinte, são ordenanças que se cumprem comunitariamente, haja vista que a ceia do Senhor é uma celebração da expiação de Cristo e da comunhão entre os irmãos. No mesmo sentido, o batismo nas águas é uma ordenança de iniciação, simbolizando a entrada do crente no contexto congregacional da comunidade cristã, como também simbolizando sua regeneração. É impossível cumprir genuinamente as ordenanças no contexto dos desigrejados, pois vivem um cristianismo informal e privado, destituído de qualquer natureza congregacional demandada pelas ordenanças.
3. DAS ORDENANÇAS
Conforme dito alhures, Cristo instituiu duas ordenanças à sua Igreja, quais sejam: Ceia do Senhor (Mt 26:26-29) e Batismo nas águas (Mt 28:18-20).
3.1. Do Batismo nas águas:
A priori, é interessante notar que o batismo era uma prática religiosa comum no judaísmo da época de Cristo. Todos os gentios que se convertiam ao judaísmo precisavam passar pelo batismo dos prosélitos a fim de serem iniciados na fé judaica.
Outrossim, Jesus, antes de acender aos céus, ordenou à sua Igreja que batizasse nas águas todos os convertidos. Desta forma, o batismo nas águas é uma ordenança de iniciação, onde o convertido declara publicamente sua fé em Cristo e seu compromisso de viver exclusivamente para Ele.
Conforme ensina Gregg R. Allison:
O precursor do Messias chamava-se João Batista; evidentemente, o batismo era uma parte importante de seu ministério de preparação (Mc 1.4,5; Lc 3.16; Jo 1.31;3.23). Quando Jesus iniciou seu ministério messiânico, seu primeiro ato foi ser batizado por João (Mt 3.13-17), e o batismo foi um aspecto importante de seu ministério (Jo 4.1,2). Depois da ressureição, Jesus comissionou seus discípulos com a tarefa de dar continuidade à sua obra. Também nessa empreitada, o batismo teria papel fundamental (Mt 28.19). (ALLISON, Eclesiologia, p. 354, 2021).
A posteriori, depois de Jesus ter subido aos céus, a igreja primitiva levou muito a sério o comissionamento de Jesus e a prática batismal se tornou uma ordenança de iniciação à fé cristã. Temos um bom exemplo disto em Atos 2:38, onde Pedro convoca a todos os ouvintes de sua pregação para se converterem e serem batizados nas águas. Neste contexto, quase três mil pessoas se converterem e todas foram imediatamente batizadas nas águas, iniciando-as na fé cristã (Atos 2:41).
É digno de nota que o livro de Atos relata que todos os convertidos de sua época foram batizados nas águas, senão vejamos: Os samaritanos (Atos 8.12); um eunuco etíope (Atos 8.36,38); Saulo (Atos 9.18; 22.16); gentios (Atos 10.47,48; 11.16,17); uma comerciante e sua família (Atos 16.15); um carcereiro e sua família (Atos 16.33); muitos coríntios (Atos 18.8); doze discípulos de João Batista (Atos 19.3-7).
Desta forma, o batismo nas águas é elemento essencial para a fé cristã, se constituindo a primeira ordenança a ser cumprida por um salvo.
Sendo assim, conforme dito alhures, toda ordenança precisa ter três elementos, quais sejam: Ordem (justificativa dominical); símbolo e rito. Vejamos tais elementos no batismo:
a) Ordem – justificativa dominical: Em pelo menos dois dos evangelhos consta o comissionamento que Jesus entregou à sua igreja. Nesta comissão encontramos a ordem de batizar nas águas todos os que crerem em Cristo e em seu evangelho (Mt 28.19; Mc 16.15,16). Desta forma, a ordem é clara:
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mt 28.19)
b) Símbolos do batismo nas águas: O batismo nas águas possui vários símbolos:
A começar pela água que simbolizam (é importante destacar que simbolizam) a regeneração do crente (Jo 3.5);
Também simboliza a morte e ressureição de Cristo (Rm 6.3; Mt. 3.13; Mc 10.38; Lc 12.50; Cl 2.12);
Simboliza a expiação dos pecados (Rm. 6.4,7,10,11);
Simboliza a morte do pecador para o pecado e o mundo e sua ressureição para uma vida espiritual com Cristo (Gl. 3.27; 1Pe 3.21; Gl. 2.19,20);
Simboliza a união de todos os crentes com Cristo (Ef 4.5; 1Co 12.13
Neste ponto, é importante ressaltar que tais elementos citados acima são de natureza simbólica e não literal/constitutiva. Ninguém é regenerado ou salvo no momento do batismo, pelo contrário, aquele que está sendo batizado já foi previamente regenerado e, portanto, salvo, no momento em que creu em Cristo.
c) Rito: Como dito alhures, o rito é a forma como o batismo é realizado. Desta forma, existe a forma correta e exclusiva de realização do batismo, qual seja:
O batismo deve ser realizado em nome do Pai, Filho e Espírito Santo, expressando a autoridade e presença do Deus trino no ato (Mt 28.19). Quanto a este ponto, muitas seitas (unicistas e unitaristas) praticam o batismo somente em nome de Jesus, usando textos de Atos 2.38; 8.16; 10.48. Contudo, interpretam mal tais textos, pois a expressão “batizar em nome de Jesus” significa batizar em sua autoridade ou sob sua ordenança. Desta forma, o batismo deve ser realizado em nome da trindade, conforme ordem dada diretamente por Cristo (Mt 28.19);
O batismo deve ser por imersão, ou seja, o candidato ao batismo deve ser mergulhado nas águas, tendo todo seu corpo coberto pelas águas. Muitas denominações rejeitam o batismo por imersão e praticam ou o batismo por aspersão (pingar uma pequena quantidade de água na cabeça) ou o batismo por efusão (derramar uma grande quantidade de água na cabeça). Porém, o significado da palavra “batismo” (gr. baptizo) é imersão, indicando que o individuo deve ser imergido nas águas. Em Atos 8.36-39 lemos que Filipe batizou o eunuco descendo ambos às águas. Neste ponto, Gregg R. Allison questiona acertadamente “... [Se o batismo não foi por imersão] por que esperar até encontrar a massa de água à qual o que batizou e o que foi batizado puderam descer” (ALLISON, Eclesiologia, p.386, 2021). Além do mais, em Atos 8.26, antes do eunuco ser batizado, Lucas faz questão de relatar que o lugar era desértico, ou seja, não existia massa de água. Porque Lucas faz questão de relatar tal fato, senão para demonstrar que o batismo era por imersão e que o fato de encontrar uma massa de água para o batismo era um ato miraculoso da parte de Deus! Ademais, o próprio significado do batismo impõe a imersão, pois simboliza o sepultamento do velho homem e o renascimento do novo homem, a imagem de Cristo;
3.1.1. Credobatismo ou Pedobatismo?
Ao longo da história da igreja, muitos têm questionado quem pode ser candidato ao batismo, ou seja, somente pessoas conscientes da fé cristã podem batizar ou crianças também podem ser batizadas?
A corrente que defende que somente a pessoa que já tem consciência do certo e errado e da verdade do evangelho pode batizar é chamada de credobatista, pois ensina que somente quem tem condições de conscientemente crer pode ser batizado nas águas.
Já a corrente que ensina que bebês e crianças podem ser batizados nas águas é conhecida como pedobatista, pois praticam o batismo de crianças, ensinando que os pais representam os filhos.
A bíblia exige dois requisitos para o candidato ao batismo nas águas, quais sejam: Crer no Senhor Jesus e se arrepender de seus pecado (Mt 28.19; Mc 16.15,16; Atos 2:38). Em outras palavras, para que o indivíduo possa ser batizado é preciso que primeiramente creia e se arrependa de seus pecados, ações estas que só podem ser realizadas conscientemente por um indivíduo, ou seja, para crer e se arrepender, o indivíduo precisa ter consciência das verdades do evangelho e de sua situação pecaminosa. Desta forma, o credobatismo é a forma biblicamente correta de se batizar.
As crianças não podem ser batizadas, pois não possuem maturidade e consciência para crerem e se arrependerem de seus pecados. Um bebê não tem consciência das verdades do evangelho e nem de sua natureza pecaminosa. Desta forma, crianças não podem ser batizadas nas águas, tal ordenança está reservada para aqueles que crerem!
3.1.2. O batismo é condição para salvação?
O batismo nas águas é necessário para a salvação? Não! Muitos citam o texto de Mc 16.16 para defenderem o batismo como condição para salvação, contudo, o referido texto não serve de fundamento, vejamos:
Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado (Mc. 16:16).
Aduzem que o texto acima diz que para ser salvo é preciso crer e ser batizado, contudo, o texto não diz isso! O texto termina dizendo que “quem não crer será condenado”, ou seja, a única coisa que condenará alguém será a ausência do crer.
O texto de Marcos deve ser compreendido da seguinte forma: Quem crer, naturalmente será batizado, porém, quem não crer será condenado.
A prova de que o batismo nas águas não é necessário para a salvação é o caso do ladrão na cruz, que creu em Cristo, mas não teve tempo de ser batizado, porém, Jesus lhe disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23:43).
4. Ceia do Senhor
A Ceia do Senhor é outra ordenança deixada diretamente por Cristo à sua Igreja, senão vejamos:
Ordem – justificativa dominical: Nos evangelhos, Jesus determina a celebração da Ceia do Senhor em memória Dele e sua obra expiatória (Mt. 26:26-30; Mc 14:22-26; Lc 22:16-20; 1Co 11:23-30);
Símbolos da Ceia do Senhor: Os próprios textos trazem toda a simbologia da Ceia do Senhor. O pão simboliza o corpo de Cristo partido pela humanidade (1Co 11.24). O vinho simboliza o sangue de Jesus derramado por todos os pecadores (1Co 11.25); A Ceia do Senhor é símbolo da segunda vinda de Cristo (1Co 11.26; Mt 26.29; Mc 14.25);
Rito: A Ceia deve ser celebrada através da consagração do pão e do vinho e todos devem participar dos dois elementos. A Ceia deve ser ministrada em um contexto congregacional, ou seja, com a igreja reunida (Atos 20.7; 1Co 11.18,20,22,33,34).
4.1. Pontos de vistas sobre a Ceia do Senhor:
Existem quatro pontos de vistas acerca da Ceia do Senhor, quais sejam:
Negacionista: Este ponto de vista nega a exigibilidade da Ceia do Senhor, ou seja, nega a necessidade de o cristão participar da Ceia. Sustentam que a Ceia do Senhor era apenas uma festa onde comiam e bebiam em confraternização;
Objeção: Esta teoria contraria Jo 6:53;
Teoria da Transubstanciação: Esta é uma teoria católica e sustenta que no momento da consagração do pão e do vinho, os elementos se transformam literalmente no corpo e sangue de Cristo respectivamente. Para esta teoria, apesar de não sofrer nenhuma mudança na aparência do pão e do vinho, a substância destes elementos é transformada literalmente no corpo e sangue de Jesus, fazendo com que o crente come literalmente do corpo e beba literalmente do salgue de Jesus;
Objeção: O pão e vinho devem ser interpretados como símbolos do corpo e sangue de Jesus, pois, por exemplo, em Mt 26.28 Jesus diz “Isto é o meu sangue [...] que é derramado”, porém, o sangue de Jesus ainda não havia sido derramado, pois Jesus morreu tempo depois da celebração da Ceia. Neste contexto, a fala de Jesus só pode ser interpretada de maneira simbólica ou representativa;
Teoria da Consubstanciação: Esta é uma teoria luterana que defende a união sacramental de Cristo com os elementos do pão e vinho, ou seja, o corpo de Cristo está presente com o pão e vinho. Para Lutero, os elementos não se transformavam no corpo e sangue de Jesus, porém, o corpo de Jesus estava acompanhado com o pão e vinho. Um exemplo para entender esta posição é a presença da água em uma esponja, a esponja não se transforma na água, porém, a esponja está acompanhada da água em seu interior;
Objeção: Se há a presença literal do corpo de Cristo junto ao pão e vinho, logo a igreja deveria adorar o pão e vinho, pois conteriam Cristo. Contudo, nenhum cristão protestante adora ou venera os elementos da Ceia, pois corretamente entendem que somente Deus pode ser adorado;
Teoria da presença espiritual: Esta é uma teoria tipicamente calvinista e ensina que Cristo esta presente espiritualmente nos elementos do pão e vinho, ou seja, misteriosamente, Cristo se faz presente espiritualmente no pão e vinho de tal forma que o crente participa do corpo e sangue de Jesus;
Objeção: Esta teoria diz que comemos o corpo espiritual de Jesus, o que é um absurdo. Jesus está presente na Ceia do Senhor, mas não habita espiritualmente o pão e vinho;
Teoria do Memorial: Esta teoria era defendida pelo reformador Ulrico Zuínglio e ensina que a Ceia do Senhor é uma ordenança que deve ser cumprida pela Igreja a fim de trazer a memória o sacrifício de Jesus e sua promessa de retorno para buscar sua igreja, ou seja, esta teoria nega que o pão e vinho se transformem ou são acompanhados literalmente pelo corpo de Cristo. Para esta teoria, o pão e vinho são apenas símbolos representativos do corpo e sangue de Jesus, respectivamente, que, depois de consagrados, devem ser respeitados exatamente por sua representatividade. A teoria do memoria destaca, acertadamente, que o próprio Jesus disse para celebrarem a Ceia “em memória” Dele (1Co 11:24,25), ou seja, fazer isto lembrando de Cristo e de seu sacrifício.
A teoria do memorial é a mais coerente com o texto bíblico, tendo em vista que Jesus, antes de morrer, disse que o pão e vinho representavam seu corpo e sangue (1Co 11.24,25). Ora, se o pão e vinho se transformam literalmente no corpo e sangue de Jesus, como Jesus poderia celebrar a primeira Ceia e consagrá-la se ainda estava vivo? Pior, se o pão e vinho se transformam no corpo e sangue de Jesus, Jesus e seus discípulos comeram literalmente carne humana e todos os crentes depois deles também, qual a diferença disto para o canibalismo?! A única explicação exegética e lógica é a de que os elementos da Ceia do Senhor não se transformam no corpo de Cristo, são apenas símbolos do corpo de Cristo, símbolos estes que celebramos em memória de Cristo, de seu sacrifício e de sua promessa de retorno para buscar sua Igreja.
5. CONCLUSÃO
Conforme dito alhures, a eclesiologia contemporânea, por várias vezes, tem sido influenciada pela cosmovisão pós-moderna de seu tempo, relativizando as ordenanças e, com isto, corrompendo do o significado das ordenanças que Cristo estabeleceu para sua Igreja.
As ordenanças, apesar de não serem condições para a salvação, são de cumprimento obrigatório para aqueles que foram salvos, pois externam, antes de tudo, a base da fé cristã.
Por fim, em tempos em que o individualismo e anti-institucionalismo tem fermentado o movimento dos desigrejados, as ordenanças são uma perene e inexorável lembrança de que a comunhão da igreja deve ser celebrada comunitária e congregacionalmente.
Pb. Diego Natanael.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLISON, Gregg R. Eclesiologia: uma teologia para peregrinos e estrangeiros. São Paulo: Vida Nova, 2021.
GILBERTO, Antônio. Org. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
JUNIOR, Idauro de Oliveira Campo. Desigrejados: Teoria, história e contradições do niilismo eclesiástico. Rio de Janeiro: bvbooks, 2017.
STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Vol. 2. São Paulo: Hagnos, 2007.
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