TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO: PANORÂMA DO LIVRO

Por Diego Natanael

INTRODUÇÃO

O livro de terceira carta de João faz parte de um compêndio de três cartas que irão abordar, essencialmente, questões ligadas a encarnação de Cristo e seus efeitos na vida do homem, bem como questões relacionadas a hospitalidade.

Para entender a terceira carta de João é preciso, antes, entender quem foi o apóstolo João, qual o contexto histórico da carta e quais as ênfases da teologia joanina.

Desta forma, apesar de ser um livro pequeno, a terceira carta de João revela uma série de verdades que, se consideradas em conjunto com os outros livros de João, nos aponta para a pessoa de Cristo, sua encarnação e o dever missiológico da Igreja.

1) QUEM FOI O APÓSTOLO JOÃO:

O nome de João decorre do nome em hebraico “Yochanan” que significa “Deus é cheio de graça” ou “Deus é misericordioso. Este nome resume o ministério do apóstolo João, pois João se esforçou para apresentar a maravilhosa graça e misericórdia de Deus revela da encarnação e ressureição de Jesus.

João foi um dos apóstolos de Jesus (Mt 10.2) e, dentre os apóstolos, foi chamado de discípulo amado (Jo 21.20). É interessante notar que o apóstolo João foi o único que acompanhou o ministério de Jesus até o final de sua crucificação (Jo 19.25-27).

João foi o único apóstolo que não foi martirizado, morreu de causas naturais. Tanto o império romano, na figura do imperador Domiciano, quanto os judeus de seu tempo tentaram matá-lo, porém, todos fracassaram.

A tradição cristã, principalmente a patrística, conta que Domiciano condenou João a morte e mandou que o jogasse em um tacho de óleo fervente. Contudo, depois que jogaram João no olho quente, nada aconteceu com o apóstolo, João saiu ileso de lá. Após este fato, Domiciano determinou o exílio de João para ilha de Patmos, local onde João morreu por causas naturais.

O apóstolo João foi conhecido como evangelista, tendo em vista que o autor do evangelho de João e um eminente pregador do evangelho. Igualmente, João foi presbítero da igreja de Éfeso por volta do ano 90 d.C, ou seja, João pastoreou aquela igreja até o seu exílio na ilha de Patmos.

João foi um grande apologista da fé Cristã, combatendo uma das primeiras heresias que surgiram na história da Igreja, qual seja: o Gnosticismo.

O Gnosticismo era uma heresia que tinha uma visão dualista da divindade, ensinando que existia dois deuses, um bom e outro mau. As coisas espirituais foram criadas por esta divindade boa, ao passo que a matéria teria sido criado pela divindade má. Logo, os gnósticos ensinavam que o corpo foi criado pela divindade má e, por isto, negavam a encarnação de Cristo.

Desta forma, João se esforçou para demonstrar que só existe um Deus, criador de todas as coisas, sejam espirituais ou materiais. Desta forma, a matéria foi originalmente criada por Deus, o que possibilita a encarnação de Cristo.

Em síntese, João, principalmente em suas epístolas, enfatiza a doutrina da encarnação como tema central do evangelho que deveria ser pregado em todos os lugares.

2) CONTEXTO DA TERCEIRA CARTA DE JOÃO

A terceira carta de João foi escrita para abordar um tema específico, qual seja: O dever de hospitalidade da igreja em favor dos missionários que eram liderados por Demétrio. Esta carta é destinada a um homem chamado Gaio, provavelmente um dos líderes daquela congregação.

Naquele tempo, um “irmão” chamado Diótrefes se recusava a cooperar com João no pedido de receber com amor e hospitalidade os missionários (evangelistas itinerante) que passavam pela aquela região. 

Gaio foi um dos líderes de uma das igrejas da Ásia menor (atual Turquia) e que era amado fraternalmente pelo apóstolo João (3Jo 1.1). Gaio era o modelo do cristão fiel e líder abnegado e hospitaleiro. Não se tem certeza se Gaio foi o mesmo de Derbe (Atos 20.4); da Macedônia (Atos 19.29) ou de Corinto (1Co 1.14; Rm 16.23).

Igualmente, Demétrio era um líder local que era conhecido por sua hospitalidade e boa vontade na obra de Cristo. Demétrio reconhecia o ministério itinerante dos evangelistas e os tratava com dignidade e respeito. É possível que Demétrio seja o portador da terceira epístola de João e que ele mesmo a entregou nas mãos de Gaio, pois a carta também faz uma breve apresentação de Demétrio para Gaio.

Já Diótrefes é apresentado como um líder centralizador (que queria liderar sozinho as congregações – vers. 9), provavelmente, foi um gnóstico, o que explica sua rejeição a pessoa do apóstolo João (principal opositor ao Gnosticismo). Diótrefes, portanto, segundo a tradição cristã, negava a encarnação e morte expiatória de Cristo, bem como qualquer exigência moral de Deus para com os cristãos.

Desta forma, João escreve sua terceira carta a Gaio, incumbindo Demétrio de entregá-la pessoalmente, a fim de solicitar que Gaio recebesse com amor e dignidade os evangelistas itinerantes e, também, condenar a posição ditatorial, herética e imoral de Diótrefes.

A terceira carta de João é o menor livro da Bíblia, considerando o número de palavras. Uma última curiosidade é que a terceira carta de João é o único livro do Novo Testamento que não contém os nomes de “Jesus” e “Cristo”, apesar de Jesus está implícito, principalmente, nos termos relacionados a “hospitalidade” e “verdade”.

3) A VERDADE NA TEOLOGIA JOANINA: SEU EMBATE CONTRA OS GNÓSTICOS

João, em todas as suas cartas, apresenta o conceito de “verdade” em dois sentidos: Verdade com sendo uma pessoa, qual seja: Jesus; e verdade como sendo uma postura ou comportamento correto e baseado em Cristo.

O tema sobre a “verdade” é tão importante na teologia Joanina que só no evangelho de João, a palavra “verdade” aparece 20 vezes (Jo 1. 14,17; 3. 21; 4. 23, 24; 5. 33; 8. 32, 40, 45, 46; 8. 44; 14. 6, 17; 15. 26; 16. 7, 13; 17. 17, 19; 18. 37,38).

Já nas cartas de João, a palavra “verdade” aparece nos seguintes textos: lJo 1.6,8; 2. 21; 3. 19; 4. 6; 2Jo 1. 4; 3 Jo 3.

Desta forma, João relaciona a verdade como sendo o “logos”, a Palavra revelada, ou seja, tanto a verdade quanto o logos são termos que se referem a pessoa de Cristo. Com isto, João relacionava Cristo, sua encarnação, sua morte e ressureição como “A verdade”. João argumenta que Jesus é a verdade absoluta, verdade esta expressa na certeza de sua encarnação, sua morte e ressureição. João estabelece que é impossível existir qualquer relação com a verdade as margens da pessoa de Cristo. Para João a verdade é uma pessoa, mas especificamente, a terceira Pessoa da trindade, Jesus!

Outrossim, uma vez estando em Cristo, João argumenta que estamos firmados na verdade, o que torna as obras do cristãos essencialmente verdadeiras, ou seja, as obras cristãs devem ser verdadeiramente corretas, o que significa moral, soteriológica e cristológicamente corretas. Em apertada síntese, João enfatiza que sendo Cristo a verdade, todo cristão autêntico deve andar na verdade, consubstanciada em uma vida moralmente correta e em uma fé cristológicamente e soteriológicamente correta.  Uma vida moralmente correta consiste em seguir os passos de Cristo, Aquele que é identificado com a verdade; Uma fé cristológicamente correta é aquela baseada na encarnação, morte e ressureição de Jesus; por fim, uma fé soteriológicamente correta é aquela baseada na expiação de Cristo, ou seja, baseada na fé de que Cristo literalmente morreu a fim de expiar nossos pecados definitivamente.

 

4) CONCLUSÃO

Apesar do seu pequeno tamanho, a terceira carta de João, considerada em conjunto com os demais textos joaninos, nos revela um Cristo que se encarnou, morreu, ressuscitou a fim de nos salvar e esta mensagem deve ser levada a todos os homens. Outrossim, aqueles que levam esta mensagem, os evangelistas itinerantes, devem ser bem recebidos pelas igrejas locais a fim de que possam facilitar a amplificação do evangelho de Cristo.

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1.14).

Pb. Diego Natanael

 

5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIA JUDAÍCA COMPLETA: O Tanakh (AT) e a B’rit Hadashah (NT). São Paulo: Editora Vida, 2010.

CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. Vol. 6. São Paulo: Hagnos, 2014.

HARRISON, Everett. Comentário Bíblico Moody: Mateus a Apocalipse. Vol. 2. São Paulo: Batista Regular, 2017.

WHYTE, Alexander. Personagens bíblicos do Novo Testamento. Londrina: Penkal, 2021.


Material de apoio referente a lição 1 da Revista Betel Dominical 4ª trimestre de 2023 destinado a auxiliar professores e alunos da EBD da IEADMG.

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