TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO: PANORÂMA DO LIVRO
INTRODUÇÃO
O
livro de terceira carta de João faz parte de um compêndio de três cartas que
irão abordar, essencialmente, questões ligadas a encarnação de Cristo e seus
efeitos na vida do homem, bem como questões relacionadas a hospitalidade.
Para
entender a terceira carta de João é preciso, antes, entender quem foi o
apóstolo João, qual o contexto histórico da carta e quais as ênfases da
teologia joanina.
Desta
forma, apesar de ser um livro pequeno, a terceira carta de João revela uma
série de verdades que, se consideradas em conjunto com os outros livros de
João, nos aponta para a pessoa de Cristo, sua encarnação e o dever missiológico
da Igreja.
1) QUEM FOI O APÓSTOLO JOÃO:
O nome
de João decorre do nome em hebraico “Yochanan” que significa “Deus é
cheio de graça” ou “Deus é misericordioso. Este nome resume o ministério do
apóstolo João, pois João se esforçou para apresentar a maravilhosa graça e
misericórdia de Deus revela da encarnação e ressureição de Jesus.
João
foi um dos apóstolos de Jesus (Mt 10.2) e, dentre os apóstolos, foi chamado de
discípulo amado (Jo 21.20). É interessante notar que o apóstolo João foi o
único que acompanhou o ministério de Jesus até o final de sua crucificação (Jo
19.25-27).
João
foi o único apóstolo que não foi martirizado, morreu de causas naturais. Tanto
o império romano, na figura do imperador Domiciano, quanto os judeus de seu
tempo tentaram matá-lo, porém, todos fracassaram.
A
tradição cristã, principalmente a patrística, conta que Domiciano condenou João
a morte e mandou que o jogasse em um tacho de óleo fervente. Contudo, depois
que jogaram João no olho quente, nada aconteceu com o apóstolo, João saiu ileso
de lá. Após este fato, Domiciano determinou o exílio de João para ilha de
Patmos, local onde João morreu por causas naturais.
O
apóstolo João foi conhecido como evangelista, tendo em vista que o autor do
evangelho de João e um eminente pregador do evangelho. Igualmente, João foi
presbítero da igreja de Éfeso por volta do ano 90 d.C, ou seja, João pastoreou
aquela igreja até o seu exílio na ilha de Patmos.
João
foi um grande apologista da fé Cristã, combatendo uma das primeiras heresias
que surgiram na história da Igreja, qual seja: o Gnosticismo.
O
Gnosticismo era uma heresia que tinha uma visão dualista da divindade, ensinando
que existia dois deuses, um bom e outro mau. As coisas espirituais foram
criadas por esta divindade boa, ao passo que a matéria teria sido criado pela
divindade má. Logo, os gnósticos ensinavam que o corpo foi criado pela
divindade má e, por isto, negavam a encarnação de Cristo.
Desta
forma, João se esforçou para demonstrar que só existe um Deus, criador de todas
as coisas, sejam espirituais ou materiais. Desta forma, a matéria foi
originalmente criada por Deus, o que possibilita a encarnação de Cristo.
Em
síntese, João, principalmente em suas epístolas, enfatiza a doutrina da
encarnação como tema central do evangelho que deveria ser pregado em todos os
lugares.
2) CONTEXTO DA TERCEIRA CARTA DE JOÃO
A
terceira carta de João foi escrita para abordar um tema específico, qual seja:
O dever de hospitalidade da igreja em favor dos missionários que eram liderados
por Demétrio. Esta carta é destinada a um homem chamado Gaio, provavelmente um
dos líderes daquela congregação.
Naquele
tempo, um “irmão” chamado Diótrefes se recusava a cooperar com João no pedido
de receber com amor e hospitalidade os missionários (evangelistas itinerante)
que passavam pela aquela região.
Gaio
foi um dos líderes de uma das igrejas da Ásia menor
(atual Turquia) e que era amado fraternalmente pelo apóstolo João (3Jo 1.1).
Gaio era o modelo do cristão fiel e líder abnegado e hospitaleiro. Não se tem
certeza se Gaio foi o mesmo de Derbe (Atos 20.4); da Macedônia (Atos 19.29) ou
de Corinto (1Co 1.14; Rm 16.23).
Igualmente,
Demétrio era um líder local que era conhecido por sua hospitalidade
e boa vontade na obra de Cristo. Demétrio reconhecia o ministério itinerante
dos evangelistas e os tratava com dignidade e respeito. É possível que Demétrio
seja o portador da terceira epístola de João e que ele mesmo a entregou nas
mãos de Gaio, pois a carta também faz uma breve apresentação de Demétrio para
Gaio.
Já Diótrefes
é apresentado como um líder centralizador (que queria liderar
sozinho as congregações – vers. 9), provavelmente, foi um gnóstico, o que
explica sua rejeição a pessoa do apóstolo João (principal opositor ao
Gnosticismo). Diótrefes, portanto, segundo a tradição cristã, negava a
encarnação e morte expiatória de Cristo, bem como qualquer exigência moral de
Deus para com os cristãos.
Desta
forma, João escreve sua terceira carta a Gaio, incumbindo Demétrio de
entregá-la pessoalmente, a fim de solicitar que Gaio recebesse com amor e
dignidade os evangelistas itinerantes e, também, condenar a posição ditatorial,
herética e imoral de Diótrefes.
A
terceira carta de João é o menor livro da Bíblia, considerando o número de
palavras. Uma última curiosidade é que a terceira carta de João é o único livro
do Novo Testamento que não contém os nomes de “Jesus” e “Cristo”, apesar de
Jesus está implícito, principalmente, nos termos relacionados a “hospitalidade”
e “verdade”.
3) A
VERDADE NA TEOLOGIA JOANINA: SEU EMBATE CONTRA OS GNÓSTICOS
João,
em todas as suas cartas, apresenta o conceito de “verdade” em dois sentidos:
Verdade com sendo uma pessoa, qual seja: Jesus; e verdade como sendo uma
postura ou comportamento correto e baseado em Cristo.
O tema
sobre a “verdade” é tão importante na teologia Joanina que só no evangelho de
João, a palavra “verdade” aparece 20 vezes (Jo 1. 14,17; 3. 21; 4. 23, 24; 5.
33; 8. 32, 40, 45, 46; 8. 44; 14. 6, 17; 15. 26; 16. 7, 13; 17. 17, 19; 18. 37,38).
Já nas
cartas de João, a palavra “verdade” aparece nos seguintes textos: lJo 1.6,8; 2.
21; 3. 19; 4. 6; 2Jo 1. 4; 3 Jo 3.
Desta
forma, João relaciona a verdade como sendo o “logos”, a Palavra revelada, ou
seja, tanto a verdade quanto o logos são termos que se referem a pessoa de
Cristo. Com isto, João relacionava Cristo, sua encarnação, sua morte e
ressureição como “A verdade”. João argumenta que Jesus é a verdade absoluta,
verdade esta expressa na certeza de sua encarnação, sua morte e ressureição.
João estabelece que é impossível existir qualquer relação com a verdade as
margens da pessoa de Cristo. Para João a verdade é uma pessoa, mas
especificamente, a terceira Pessoa da trindade, Jesus!
Outrossim,
uma vez estando em Cristo, João argumenta que estamos firmados na verdade, o
que torna as obras do cristãos essencialmente verdadeiras, ou seja, as obras
cristãs devem ser verdadeiramente corretas, o que significa moral,
soteriológica e cristológicamente corretas. Em apertada síntese, João enfatiza
que sendo Cristo a verdade, todo cristão autêntico deve andar na verdade,
consubstanciada em uma vida moralmente correta e em uma fé cristológicamente e soteriológicamente
correta. Uma vida moralmente correta
consiste em seguir os passos de Cristo, Aquele que é identificado com a
verdade; Uma fé cristológicamente correta é aquela baseada na encarnação, morte
e ressureição de Jesus; por fim, uma fé soteriológicamente correta é aquela
baseada na expiação de Cristo, ou seja, baseada na fé de que Cristo
literalmente morreu a fim de expiar nossos pecados definitivamente.
4)
CONCLUSÃO
Apesar
do seu pequeno tamanho, a terceira carta de João, considerada em conjunto com
os demais textos joaninos, nos revela um Cristo que se encarnou, morreu,
ressuscitou a fim de nos salvar e esta mensagem deve ser levada a todos os
homens. Outrossim, aqueles que levam esta mensagem, os evangelistas
itinerantes, devem ser bem recebidos pelas igrejas locais a fim de que possam
facilitar a amplificação do evangelho de Cristo.
“E
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória
do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1.14).
Pb.
Diego Natanael
5)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIA
JUDAÍCA COMPLETA: O Tanakh (AT) e a B’rit Hadashah (NT). São
Paulo: Editora Vida, 2010.
CHAMPLIN,
R.N.
O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. Vol. 6. São
Paulo: Hagnos, 2014.
HARRISON,
Everett. Comentário Bíblico Moody: Mateus a Apocalipse. Vol. 2.
São Paulo: Batista Regular, 2017.
WHYTE,
Alexander. Personagens bíblicos do Novo Testamento. Londrina: Penkal,
2021.
Material de apoio referente a lição 1 da Revista Betel Dominical 4ª trimestre de 2023 destinado a auxiliar professores e alunos da EBD da IEADMG.
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